sexta-feira, 27 de setembro de 2024
outono
quinta-feira, 26 de setembro de 2024
Um livro - Três Chávenas de Chá
"O nosso clamor é um vento forte que atravessa a terra.» (Mortenson & Relin, 2008)
As notícias dão-nos muitas vezes notícias que nos indicam que no mundo milhões de pessoas são ainda vítimas de pobreza extrema, de violência, de doenças diversas. O sinal de um ser humano indefeso ainda é muito comum em muitos espaços do planeta. A indiferença para com a vida é ainda muito visível neste planeta. Verificamos como o analfabetismo e a extrema pobreza alimentam tantos lugares do mundo convocando crianças e jovens para o absurdo. Existe alguma forma de superar esta epidemia do espírito?
Três Chávenas de chá é um livro que vale a pena conhecer. É a história de um livro, de um homem, de uma ONG e de uma comunidade nas montanhas altas do Paquistão. É um livro sobre as possibilidades criadoras que a educação e a leitura permitem construir, mesmo nas geografias mais difíceis, onde a violência, o fanatismo religioso e a pobreza alimentam uma terra ferida de dignidade e esperança para as mais jovens gerações. O Paquistão e o Afeganistão são muitas vezes sinónimos de indiferença a uma ideia de dignidade, de alfabetização, de oportunidades para diversas comunidades.
Um alpinista americano, ao escalar o K2, a segunda maior montanha do planeta conheceu numa comunidade local, a hospitalidade de uma cultura ancestral. No território do fundamentalismo islâmico, entre os caminhos da Al-Kaeda e dos Talibãs, num mundo esquecido, um homem tenta a conciliação de culturas. Nas altas montanhas da Ásia, entre o Paquistão e o Afeganistão um homem viu como a educação podia fazer sobreviver as aspirações de uma comunidade. Com a ideia de criar escolas, especialmente para meninas e com o apoio a projetos comunitários, um homem cria uma resposta generosa onde muitos, demasiados só parecem encontrar a guerra.
É um livro que não é uma ficção, mas uma reportagem ilustrada por quem viveu uma aventura de generosidade e de transformação de como um sonho, pode converter-se numa ONG, The Central Asia Institute, que alimenta a possibilidade de alfabetização de uma cultura, nos seus elementos mais jovens.
É um livro que revela uma lição imensa feita de vontade e inteligência. Mas também, uma lição de recompensa pelos frutos conseguidos com aquelas crianças e a convicção que só de olhos abertos se pode compreender o mundo. É ainda um livro que nos envolve com o mais importante, a vontade e a determinação de cada homem. Um livro que nos assegura que as mudanças têm de passar pelo individual, pois cada de um nós, nas palavras antigas de Krishnamurti, representa "o resto da humanidade".
Se este tema te interessa podes consultar o sítio web relacionado com este projeto, Três chávenas de chá e o projeto educacional e cultural dele resultante, Central Asia Institute.
Três Chávenas de Chá / Greg Mortenson & Oliver Rolin. (2008). Porto: Campo das Letras
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
bibliotecas escolares - espaço de construção
As bibliotecas
quarta-feira, 18 de setembro de 2024
O que são palavras...
As palavras são o material escrito na nossa humanidade ao estabelecermos uma relação com o real, ao nomearmos as coisas com que nos relacionamos. Elas formalizam o coração dessas coisas, a nossa respiração no real, onde realizamos a aventura humana feita de descoberta, por onde tentamos acrescentar uma linha, um olhar, o nosso corpo nos instantes
Nas palavras moram os gestos e as oportunidades de recriar a nossa memória e tocar o que mais procuramos, a liber-dade e a beleza dos gestos humanos. O que podem ser as palavras? Quais são os seus limites na experiência humana? O que podemos fazer com elas? É este um dos desafios iniciais proposto pela Biblioteca! Para alimentar este pensa-mento, um texto de José Saramago:
"As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes, algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças: vêm nos livros, nos jornais, nos “slogans” publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas (harmoniosas) ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que fazem. Há muitas palavras.
E há os discursos, que são palavras encostadas umas às outras, em equilíbrio instável graças a uma precária sintaxe, até ao prego final do Disse ou Tenho dito. Com discursos se comemora, se inaugura, se abrem e fecham sessões, se lançam cortinas de fumo ou dispõem bambinelas (cortinas) de veludo. São brindes, orações, palestras e conferências. Pelos discursos se transmitem louvores, agradecimentos, programas e fantasias.
As palavras deixaram de comunicar. Cada palavra é dita para que se não oiça outra palavra. A palavra, mesmo quando não se afirma, afirma-se. A palavra não responde nem pergunta: amassa. A palavra não mostra. A palavra disfarça. Daí que seja urgente as palavras para que a sementeira se mude em seara. Daí que as palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação. Daí que a palavra só valha o que valer o silêncio do ato.
Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão."
José Saramago, Deste Mundo e do Outro (adaptação)
sexta-feira, 13 de setembro de 2024
Da leitura
"Levanta-te do papel com as palavras. Fecha os olhos e elas saem sozinhas. As palavras são notas, repara. Não penses em nada, abandona-te. O mundo inteiro está dentro de ti." (1)
O que pensamos vemos, imaginamos e nomeamos é feito com a nossa linguagem. Na nossa linguagem está o limite do mundo de cada um. A linguagem dá-nos a possibilidade de dar nome ao que nos é dado ver e. Com as palavras conferimos à realidade uma forma de existência, aquela que nós soubermos construir. Pelas palavras construímos mundos e registamos as nossas experiências. Com elas verificamos o que podemos assinalar das nossas experiências e organizamos um imaginário, onde repousa a memória.
A Biblioteca procura como sentido da sua ação trabalhar essa memória pelas palavras e pelos recursos que estão à nossa disposição. Nelas e com elas tentar sonhar o possível e construir formas de conhecimento. Neste sentido, todos os meses será apresentado um conjunto de autores que procurarão ir de encontro aos interesses e gostos de leitura dos alunos e que se relacionam com os objetivos do currículo. Ler pode ser um caminho de felicidade por aquilo que nos oferece de descoberta do outro.
A biblioteca está ao serviço da comunidade educativa servindo assim diferentes públicos. Na divulgação das ideias, projetos e autores procuraremos ir de encontro a esses diferentes públicos. No desejado alargamento da partilha de ideias e projetos à Biblioteca, os autores do mês poderão ser reformulados, para procura atingir esses diferentes públicos. Através das estruturas intermédias faremos chegar essas propostas para chegarmos a uma linha de rumo sobre essa dimensão.
Na Biblioteca haverá um cartaz identificando algumas das suas obras e nos materiais de difusão estarão disponíveis informações sobre os mesmos. A equipa da Biblioteca apresentará um boletim bibliográfico sobre o referido autor. No blogue dar-se-á destaque a elementos importantes da sua obra literária. Em alguns meses haverá dois autores, de modo a complementar universos diferentes e que podem oferecer leituras diferenciadas sobre temas comuns.
(1) António Lobo Antunes, "Já escrevi isto esta manhã", in Quinto Livro de Crónicas, pág.85
quarta-feira, 11 de setembro de 2024
terça-feira, 10 de setembro de 2024
Recomeçando...
"A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana" (Yourcenar, 2012)
As bibliotecas do Agrupamento Dr. Carlos Pinto Ferreira continuarão a ter neste espaço a apresentação de um conjunto de ideias, atividades, recursos de informação que possam de uma forma positiva e apelativa apresentar o que é o papel e função de uma biblioteca escolar. Alterámos um pouco a modelo de apresentação do blogue nas suas cores, mas também em algumas funcionalidades, processo ainda em curso. Danos continuidade ao blogue que já existia, tendo mantido o URL do mesmo.
Este espaço digital procura ser uma plataforma de encontro entre as pessoas que formam uma comunidade educativa. Nele as palavras terão um papel essencial, os seus sentidos, cores, linhas e formas de ver o mundo e a experiência humana. Fazemos parte de uma espécie que tem nas palavras instrumentos de designar o que está "mais perto do coração da vida", como o expressou António Lobo Antunes.
As palavras, o vocabulário, a linguagem, neles assimilamos o mundo e e procuramos fazer uma viagem de significado com a vida. É com elas que tecemos a imaginação, com a memória que evocamos os espaços que construímos com as pessoas. As palavras são a expressão gráfica dos sonhos que envolvem a natureza humana. Com as palavras lemos e escrevemos. Com elas chegamos aos livros. E é neles que conduzimos uma imensa aventura onde procuramos acrescentar uma linha, um olhar, um traço, uma palavra à fantástica aventura da vida. Lemos, pois para que possamos renascer todas as manhãs.
Assim iremos neste espaço apresentar ideias, autores, livros, pensamentos que possam promover a leitura e a escrita. E naturalmente apelamos à participação dos docentes e à partilha de textos / trabalhos resultantes de situações de aprendizagem realizados com os alunos e que possam dar visibilidade ao que é feito e motivação a outros.
Deixamos uma primeira proposta. Justamente iniciando com os docentes, a apresentação breve de uma leitura, pela ideia, pelo tempo, pelo espaço em que ocorreu, pelo seu significado. Bastará enviar o mesmo para o email da biblioteca e partilhar uma leitura. Um texto curto com a indicação do título da obra e do autor da apresentação. Seria interessante fazer este desafio aos alunos. A seu tempo divulgaremos um padlet de acesso livre de partilha de escritas. Nas próximas publicações deixaremos algumas impressões sobre uma leitura realizada.
Iniciamos este caminho convidando todos a interagir, nesta dimensão digital que é a expressão da vivência de cada um com as palavras, a memória e a humanidade, as suas emoções, como um elemento comum a dinamizar nesta dimensão da expressão do Ser pelas palavras.