Existem palavras
plantadas há muito, memória de um caminho que foi feito de plena curiosidade.
Muitos gestos feitos com a imaginação a sondar os possíveis chegam a
nós, aprendizes desta experiência feita mundo. Descobri-los e aprender com eles
é compreender o que ficou tantas vezes perdido nas balizas do utilitário. Rómulo
de Carvalho foi um ser excecional. Ele e o seu amigo António Gedeão criaram
textos, experiências, manifestos culturais e científicos de infinitas
multiplicidades. Com eles encontramos a divulgação científica, o artigo, o
livro, o poema, o sonho de vencer o preconceito e a ignorância pela luta diária
do pensamento. Que pessoas moravam em Rómulo e António Gedeão?
Falamos modestamente e limitadamente dele, relendo um pouco das suas Memórias onde vive a sua experiência humana de um pouco mais de oito décadas, a sua perturbante honestidade de nos falar das grandezas e das misérias humanas. Lemos alguns poemas e com os professores de Físico - Química / Português foi possível alguns poderem experimentar experiências diversas que Rómulo criou nos seus livros de divulgação científica (centro de massa, periscópio, objetos magnetizados) e falar um pouco sobre as ideias que elas, as experiências e o poemas continham.
E ouvimos pelos alunos do 5.º B o poema "Lágrima de preta" que lendo "a inteligência das coisas" mostrava no seu tempo e neste como as separações por cor e outras são a negação da vida humana em si. Rómulo de Carvalho, um homem de um outro Renascimento fez da curiosidade uma experiência de sabedoria, até quando duvidava de si próprio e das suas capacidades. Foi disponibilizado um folheto sobre Rómulo e António Gedeão nesse jeito dele, "para si meu amigo..."
E fixámo-nos nestas
palavras das suas Memórias, uma linha de vida...
" preciso de
amor constante, o amor que se exprime em cada gesto e em cada olhar do
quotidiano, mesmo sem contatos, sem palavras, sem premeditações, espontâneo,
natural. Amor é um termo ambíguo que se presta a ridicularizar quem o
pronuncia. Mas este de que falo não é o que nos faz supor de olhos brancos, em
alvo. O amor de que falo é o que se opõe ao ódio, à violência, à dissimulação,
ao orgulho, à prepotência, a todas essas "virtudes" que adornam os
humanos com os loiros dos triunfos."
"Sejamos
modestos. Compreendamos que tudo quanto podemos pensar está limitado pelas
nossas condições físicas, pelo meio cultural, por todos aqueles que nos
antecederam. Sejamos modestos. Eu nem sei sequer como são as coisas que
vejo. Só sei como as vejo. Sejamos modestos nas nossas “certezas” e na defesa
das nossas “razões”. É comum ver os seres humanos encolerizarem-se para impor
as suas razões. Eu, pessoalmente, pouca importância atribuo às razões de cada
um porque a razão é uma coisa que todos têm. Há alguém que não
tenha razão? Não conheço”. (Memórias, p. 393)
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