Eu sei que ele queria chamar a atenção para a importância de
aprender. Explicava sempre que aprender é mudar de conduta, fazer melhor. Quem
sabe melhor e continua a cometer o mesmo erro não aprendeu nada, apenas
acedeu[1] à informação. Ele achava que dispomos de informação suficiente para
termos uma conduta mais cuidada. Elogiava insistentemente o cuidado. Era um
detective de interiores, queria dizer, inspeccionava sobretudo sentimentos.
Quando lhe perguntei porquê, ele respondeu que só assim se falava
verdadeiramente acerca da felicidade. Para estudar o coração das pessoas é
preciso um cuidado cirúrgico. Estava constantemente a pedirme que prestasse
atenção. Se prestares atenção vês corações e podes tirar medidas à felicidade.
Como se houvesse uma fita métrica para isso.
Propunha que desvendasse adivinhas e dilemas. Propunha que
desvendasse labirínticas lógicas. Prometia-me um novo livro ou um caderno com
marcadores amarelos e vermelhos, os meus favoritos. Prometia que, se eu
descobrisse cada resposta, me daria outro abraço ainda mais apertado e sempre mais
amigo. Por melhores que fossem os cadernos, o orgulho que sentia naqueles
abraços era a vitória. Comecei por entender que nenhuma vitória me gratificava
mais do que descortinar uma resposta e aceder a um abraço. De cada vez que a
nossa cabeça resolve um problema aumentamos de tamanho. Podemos chegar a ser
gigantes, cheios de lonjuras por dentro, dimensões distintas, países inteiros
de ideias e coisas imaginárias."
Mãe, Valter Hugo. (2010). As mais belas coisas do mundo. Porto: Porto Editora.
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